Na noite de 25 de agosto passado, no teatro da Universidade de Caxias do Sul, cerca de 800 pessoas ocuparam todas as poltronas e sentaram nos tapetes dos corredores para assistir a uma palestra a respeito da visão do professor Deniol Tanaka sobre a vida, obra e pensamento de Leonardo da Vinci (1452 – 1519).
Professor Titular da Escola Politécnica da USP, formado em Engenharia Mecânica pela UNESP, mestre em Ciências pelo ITA, doutor em Engenharia Metalúrgica e Livre Docente pela USP, Tanaka vem estudando o Leonardo da Vinci há cerca de 40 anos, desde que leu “The Private Life of Mona Lisa”, na década de 1970, que acabara de ser lançado, indicado por um amigo.
Com muitíssimo entusiasmo, o professor Tanaka discorreu durante quase duas horas sobre a vida de Leonardo, mostrando na apresentação muitos documentos históricos, pinturas de da Vinci, projetos das máquinas que ele inventava e, até mesmo, uma música composta por Leonardo.
Distinguindo as especulações e mitos das interpretações baseadas em evidências, o professor Tanaka também comentou várias ideias surgidas em torno da obra de Leonardo, como a tese de que, no quadro “A última ceia”, há uma partitura oculta que, ao ser interpretada da direita para a esquerda, sentido no qual o Leonardo escrevia, gera uma música.
No decorrer da palestra, o professor Tanaka respondeu à pergunta que usou como título da sua palestra. Leonardo: artista, engenheiro ou cientista?
O palestrante mostrou que da Vinci atuou em quase todos os campos do conhecimento e das artes, guiado por uma sede intrínseca de compreender e explicar tudo. Leonardo projetou muitas máquinas e engenhos (canhões, automóveis, navios, máquinas voadoras, sistemas hidráulicos, ferramentas…), mas não conseguiu fazer funcionar nenhuma delas. Não chegou a entregar ou vender nenhum dos seus quadros, pois estavam inacabados. Assim, na visão de Tanaka, Leonardo foi um engenheiro e um artista “fracassado”.
Porém, perante cada fracasso, Leonardo procurava compreender as causas. E cada resposta trazia novas perguntas, as quais o levavam a tentar compreender novos fenômenos. Dessa maneira da Vinci nunca conseguia por o ponto final em seus projetos, mas, em compensação, trabalhando completamente só, avançou séculos no conhecimento sobre os mais diversos assuntos (mecânica, anatomia, voo dos pássaros, astronomia, materiais, óptica, hidráulica…) e foi precursor de várias criações do século XXI. Por citar apenas um exemplo, Leonardo antecedeu em dois séculos Amontons e Coulomb, considerados os pais do atrito, ao conceituar detalhadamente esse fenômeno. Outro exemplo: Leonardo tinha projetado todos os mecanismos contidos numa inovadora escova de dentes elétrica lançada pela Oral B em 2002.
Como o gênio não publicava suas descobertas, todo o conhecimento que o Leonardo gerou ficou perdido por muitos séculos e não pôde ser aproveitado para gerar mais conhecimento ou para aplicá-lo ou para ser aperfeiçoado por outros… Não publicar foi um erro do da Vinci, disse o palestrante, assim como não trabalhar em equipe.
Vejam aqui o arquivo da apresentação, gentilmente cedido pelo professor Tanaka:
A palestra, que o professor Tanaka já tinha apresentado nas cidades de Curitiba (PR), Garça (SP), Natal (RN), Ponta Grossa (PR), São Bernardo do Campo (SP), Taubaté (SP), Guarujá (SP) e São Paulo (SP), fez parte nesta oportunidade do 1º Seminário de Tecnologia, Inovação e Desenvolvimento Social organizado pelo Centro de Ciências Exatas e da Tecnologia (CCET) da UCS, além de ser a palestra comemorativa dos 10 anos do Programa de Pós-Graduação em Materiais da UCS. A presença do professor Tanaka em Caxias do Sul foi patrocinada pelo Instituto Nacional de Engenharia de Superfícies.