Maior presença de línguas estrangeiras nas universidades brasileiras contribuiria à internacionalização.
Após ter lido este interessante artigo do colega professor Leandro Tessler sobre a necessidade de uma maior presença do idioma inglês nas universidades brasileiras, comecei a prestar mais atenção no assunto.
No mês de dezembro estive em Nancy (França) realizando atividades de coordenação do projeto CAPES/BRAFITEC. Esse projeto permitiu o intercâmbio de estudantes entre a UCS (Universidade de Caxias do Sul), onde sou professor, e a EEIGM, na área da Engenharia de Materiais. A sigla EEIGM quer dizer: “École Européenne d’Ingénieurs en Génie des Matériaux”, ou seja, é uma instituição de caráter europeu (não só francês) dedicada à graduação em Engenharia de Materiais. Nessa escola, os alunos devem falar, pelo menos, quatro línguas para obterem seus diplomas de “ingénieurs” (sendo o inglês obrigatório mediante certificado de Cambridge). Como a EEIGM faz parte de um consórcio de universidades, a “école” envia e recebe alunos de instituições da Alemanha, Espanha, Suécia, Polônia e Rússia (as parceiras). Daí a necessidade de ter pelo menos o inglês como língua franca, além das línguas dos respectivos países.
A EEIGM não é um caso isolado. Grande parte das instituições francesas de ensino superior possui sistemas de intercâmbio, já no nível de graduação, com outras instituições do mundo todo. Além disso, não só o inglês já está bem estabelecido no sistema francês de ensino e no nível de graduação (após grande reticência histórica) como também o mandarim é uma terceira opção que muitos acadêmicos já estudam e até falam.
Essas evidências me fazem pensar que não apenas é acertado debater a necessidade da língua inglesa no ensino superior, como também deveríamos pensar na obrigatoriedade da mesma. Humildemente, eu penso que estamos muito atrasados em termos de domínio de línguas no mundo universitário brasileiro quando comparado com um sistema evoluído como o francês.
Finalmente, acredito que a experiência linguística seja um dos pontos mais importantes do programa federal “Ciência sem Fronteiras” (do qual tenho, também, opiniões em contra por ter desprotegido o orçamento da Ciência e Tecnologia). É evidente que essa experiência ajuda a fortalecer a respectiva língua estrangeira do acadêmico em intercâmbio. O outro ponto de destaque do programa é conhecer um outro sistema de ensino.
Mesmo assim, eu entendo que um sistema de pós-graduação bilíngue é um tema que nós como professores universitários devemos pensar muito seriamente e a CAPES poderia ajudar a desenvolver, inclusive com normas e recursos específicos.
Carlos A. Figueroa