Memorando Cosan-Shell: mais um passo na história do álcool motor no Brasil

O memorando de entendimento firmado em 01-02-2010 entre a Cosan e a Shell visando a formação de uma joint venture para se “posicionarem em condições mais sólidas para crescimento e rentabilidade na área de biocombustíveis sustentáveis” é mais um passo na trajetória épica do uso do álcool como combustível no Brasil.

A Cosan tem capacidade de produção de 2 bilhões de litros de etanol por ano em 23 usinas, dispõe de uma rede de distribuição de 1.730 postos de combustível e, passados quase 100 anos, segue uma trajetória aberta por usineiros nordestinos no século passado.

Duas tentativas marcaram os primeiros passos da comercialização do álcool combustível. A USGA, combustível cuja elaboração foi iniciada na Usina Serra Grande em Alagoas, agregava ao etanol 20% de éter e 0,5% de óleo de rícino e foi comercializada em Pernambuco e Alagoas. Seu lançamento oficial em frente ao prédio do Diário de Pernambuco no centro do Recife inaugurou a “primeira bomba para comercialização de um combustível nacional em todo o Brasil” em 23 de junho de 1927. O Álcool-Motor Catende, desenvolvido na usina Catende em Pernambuco, alcançou, mais tarde, a preferência dos motoristas em todo o Nordeste, sendo exportado para estados de outras regiões do país.

Essas iniciativas não vingaram pois as circunstâncias econômicas não eram favoráveis e os obstáculos eram muito grandes. Um deles, a agressividade do álcool às parte metálicas dos motores, continua sendo um fator técnico a ser considerado ainda hoje. O outro, a oposição dos produtores de gasolina, na época representados pela Great Western Brazil Railway, parece não mais ser importante, como sugere o memorando firmado.

No início do século XX, os precursores com seus produtos de nomes pitorescos (Motogas, Nortina, Nacionalina, Motorina, Nog, Azulina, USGA e Álcool-motor Catende) não podiam sonhar com a abrangência de distribuição dos 1.730 postos da Cosan e os 2.740 da Shell. Abismados também ficariam os pioneiros de Minas Gerais que desenvolveram a Vigelina a partir de álcool de madeira se soubessem dos recursos da Iogen, empresa especializada na biotecnologia do etanol celulósico da qual a Shell detém 50% de participação e que faz parte do futuro negócio Cosan-Shell.

Que os novos tempos e novas formas de fazer negócios colaborem para o sucesso no emprego do álcool como forma de mitigar os efeitos nocivos do petróleo.

Amilton Sinatora

Referências

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