Miguel Nicolelis foi convidado e aceitou presidir a Comissão do Futuro do MCT, um cargo não remunerado e temporário.
O aceite gerou uma marolinha na imprensa, uma vez que o pesquisador havia manifestado sua opinião sobre a indicação de Aloizio Mercadante para o MCT da seguinte forma: “Estou curioso para saber qual é o currículo dele para gestão científica. Fiquei surpreso com a indicação, mas não o conheço. Não tenho a mínima idéia do seu grau de competência. Mas não fica bem para a ciência brasileira – um ministério tão importante – virar prêmio de consolação para quem perdeu a eleição. Não é uma boa mensagem. Mas talvez seja bom que o futuro ministro não seja um cientista de bancada, alguém ligado à comunidade científica. Assim, se ele tiver determinação política, poderá quebrar os vícios.”
Alguém na Folha de São Paulo levantou, por meio de um texto ambíguo, que o posto já havia amestrado o pesquisador, como se Mercadante fosse um toupeira que entrega a formulação da visão de futuro de seu ministério a um suposto desafeto, ou como se Nicolelis mudasse de opinião ao ganhar mais serviço para fazer!
A vantagem da marolinha é que temos mais uma pérola nicoleliana:
“Em resposta à nota publicada no Painel de 20/02, gostaria de declarar que, em momento algum, alterei quaisquer das críticas feitas ao atual modelo de gestão da ciência brasileira em decorrência do recente convite, feito pelo senhor Ministro da Ciência e Tecnologia, para presidir a Comissão do Futuro, proposta por esse ministério. Quando disse, em entrevista ao Estado de S. Paulo, em dezembro passado, que o Ministério da Ciência e Tecnologia não podia ser considerado como um prêmio de consolação, não estava emitindo nenhum juízo de valor sobre a pessoa do senhor ministro Aloízio Mercadante, mas simplesmente reivindicando o reconhecimento do novo governo à importância fundamental da área de ciência e tecnologia para o desenvolvimento do Brasil. Da mesma forma, desde o convite e anúncio formal do mesmo, no último dia 13/02, não emiti nenhuma declaração ou qualquer avaliação da presente gestão do MCT. Dessa forma, estranha-me ler nesse jornal a insinuação que, um convite para presidir, de forma voluntária e não remunerado, uma comissão temporária, destinada a elaborar e disseminar idéias que possam contribuir para o futuro da ciência brasileira, tenha servido como forma de cercear minhas opiniões. Na realidade, o objetivo dessa comissão é levantar todas críticas ao modelo vigente e propor soluções eficazes para que a ciência brasileira possa contribuir decisivamente para o desenvolvimento social e econômico do país. Sinceramente, Miguel Nicolelis”
A resposta acima pesquei no site Vi o mundo de Luiz Carlos Azenha num texto de Conceição Lemes, que recomendo, uma vez que o jornalão não publicou a resposta.
O meu único reparo é sobre uma das frases finais nas quais a jornalista afirma “A Folha mais uma vez briga com a verdade factual, aprontando outra das suas.” Eu tenho um amigo que diria “ao invés de suspeitar da má-fé, suspeite da incompetência”. Não posso citar o amigo (que não pode falar o que pensa numa grande instituição de pesquisa) mas tenho quase certeza de que o que falta é competência para o jornal entender a realidade, ainda que de forma tosca.
Amilton Sinatora